A Caixa Econômica Federal registrou uma queda de 6% na arrecadação com loterias no primeiro semestre de 2025, totalizando R$ 11,6 bilhões, ante R$ 12,3 bilhões no mesmo período de 2024. Caso o ritmo se mantenha, este será o primeiro ano sem crescimento desde 2018, marcando uma mudança significativa no desempenho das Loterias Caixa.
O dado surge em um momento em que o mercado de apostas esportivas regulamentadas (bets) avança rapidamente no Brasil — e em meio a tensões internas no governo, que incluem críticas do presidente Lula aos planos da Caixa de lançar sua própria plataforma de apostas.
Segundo a instituição, a retração se deve “à menor quantidade de prêmios acumulados” no período. Mas especialistas e operadores do setor apontam outros fatores: a migração gradual do público para as plataformas online, a alta concorrência das bets reguladas e a insegurança jurídica provocada por ações da própria Caixa contra sites de bolões lotéricos.
Fim da sequência de crescimento
A arrecadação das loterias federais vinha crescendo de forma contínua desde 2018:
- 2018 – R$ 13,8 bilhões
- 2019 – R$ 16,7 bilhões
- 2020 – R$ 17,1 bilhões
- 2021 – R$ 18,5 bilhões
- 2022 – R$ 23,2 bilhões
- 2023 – R$ 23,4 bilhões
- 2024 – R$ 25,9 bilhões
Com o resultado atual, a Caixa precisaria aumentar a arrecadação em 23% no segundo semestre para manter o crescimento histórico — algo sem precedentes.
A queda também afetou os repasses sociais, que correspondem a 47% da receita das loterias. Foram destinados R$ 5,46 bilhões a programas de educação, esporte e seguridade social — retração de 8,2% em relação ao mesmo período do ano passado.
O início da operação das bets regulamentadas em janeiro de 2025 mudou o cenário.
Agora, todas as plataformas licenciadas devem usar o domínio “.bet.br” e cumprir exigências legais de prevenção à lavagem de dinheiro, identificação de apostadores (KYC) e limites de publicidade.
Mesmo assim, o setor já movimenta bilhões por mês, atraindo parte do público que antes concentrava suas apostas nas loterias tradicionais da Caixa.
Internamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou irritação com o projeto da Caixa de lançar sua própria “bet”, que está em desenvolvimento pela Caixa Loterias S.A. com a empresa Playtech. Lula e o presidente do banco, Carlos Vieira, devem discutir o assunto ainda neste mês.
Outro ponto de desgaste vem da ofensiva jurídica da Caixa contra os sites de bolões lotéricos online. Em setembro, a Justiça de São Paulo arquivou um inquérito solicitado pela instituição, que alegava “exploração ilegal de jogos de azar”. O Ministério Público e a Polícia Civil concluíram que não havia irregularidades, já que as apostas eram efetivamente registradas nas lotéricas credenciadas da Caixa.
Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que a atuação das intermediadoras aumenta a arrecadação média em R$ 556 milhões por ano, ao facilitar o acesso dos apostadores e impulsionar os bolões coletivos — especialmente em concursos especiais, como a Mega da Virada.
Mesmo assim, o banco segue tentando limitar o funcionamento dessas plataformas, o que causa insatisfação entre apostadores e lotéricos, que veem os bolões como aliados do crescimento das vendas.
Nota da Caixa
“A Caixa Loterias acompanha com atenção as dinâmicas do setor e os movimentos de mercado que impactam suas linhas de negócio. O desempenho do primeiro semestre de 2025 deveu-se em especial à menor quantidade de prêmios acumulados neste ano em comparação ao mesmo período de 2024. Esse comportamento não se manteve nos meses subsequentes, o que será divulgado oportunamente, no próximo Relatório de Administração da Caixa Loterias.”





